segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Show do Grotesco


Susan Boyle. Connie Talbot. Mari Moon. Stephany (a do "Crossfox Amarelo"). Zina (o "Ronaldo, brilha muito no Corinthians", do Pânico na TV). Mulher Melancia. Maysa. BBB. Rodney Dy. O que todos tem em comum?

Beleza? Certamente, não todos. Talento? Com exceção das três primeiras (com ressalvas), nenhum. Cérebro? Menos. Mas o que, então, tem todos eles que nos fascina, nos leva a buscar na internet, ver, rever, permitir que nos apresentem, dar audiência a tais elementos completamente dispensáveis às nossas vidas?

Pode verificar: todos são "celebridades" fabricadas pela mídia, feitas para serem "carismáticas" ao menos por um tempo suficiente para que seja fabricada outra, que substituirá a anterior, sem talento ou "carisma" suficientes para entreter as massas por tempo satisfatório.

São descartáveis. Temporários. Perecíveis.

O prazo de validade é curto (das listadas anteriormente, só acredito na continuidade de Mari Moon, que sabe se expressar, e de um ou outro BBB que a mídia suporte, por terem todos a Globo como cartaz), vez ou outra tão curto quanto a paciência do público ou da própria "celebridade" (vejam o caso de Boyle, que, desculpando o trocadilho, "ferveu" MESMO o cérebro e descobriu que sua vida pacata era mais confortável, a despeito de todo seu talento).

Mas "celebridades" fabricadas não são novidade. Elas estão por aí desde que existe a mídia. Para se ter uma idéia, dese que Holywood se tornou uma indústria, ela dependia do famso "Star System" para se vender. Eles perceberam que, quando o ator ou a tariz era conhecido(a) o filme vendia muito mais. Então, eles passaram a "fabricar" esse tipo de "estrela", para que a indústria prosperasse.

Depois, veio a indústria da música (da maneira que a conhecíamos até recentemente) e, com ela, uma maneira peculiar de se "fabricar" estrelas. As gravadoras criaram, desde o início do século, um esquema para multiplicar os dividendos de um artista: primeiro, expor sua música exaustivamente em rádios, fazendo a obra entrar na "boca do povo"; depois, lançar um monte de "artistas-cópia", criando um "pseudo-gênero" e vendendo não só os álbuns do "artista principal" (main-artist, no inglês), mas os das cópias, também.

Veja, como exemplo, gêneros de grupos musicais, como as "boy bands", os grupos de pagode, a exorbitante quantidade de subgêneros do Rock and Roll e, mesmo do já subgênero de Rock, o Heavy Metal, todas as crias de Madonna (Britney, Cristina etc.) e, mais atualmente, as dezenas de Beyonceés.

A fórmula da cópia serve, também, para a TV, e mesmo o cinema se usa de fórmulas-padrão, principalmente o "monomito", ou "Jornada do Herói", de Joseph Campbell (leia mais sobre isso aqui, aqui e até aqui), que funciona muito bem.

Hoje em dia, este esquema ainda existe, mas perdeu a força, devido ao fenômeno da Internet. A maior parcela da população economicamente ativa não depende mais do desejo de gravadoras ou grandes empresas para formar seu gosto, seja musical, audiovisual, artístico, televisivo, enfim, se você quer, você procura, você acha, você decide se gosta ou não.

Apenas a parcela menos favorecida da sociedade, que tem pouco acesso ou acesso restrito ou nenhum acesso à rede, ou aqueles que não tem intimidade com ela ou aqueles que, simplesmente, tem preguiça de vasculhar, acaba vulnerável ao que ráios, emissoras de TV ou interesses de grandes empresas de entretenimento nos enfiam goela abaixo.

Daí vem o cerne da questão: para não perder o poder de controle das massas que faz a mídia vender publicidade e sobreviver, os veículos de comunicação se fizeram valer de uma teoria de Arlindo Machado, que diz que o público se sente atraído pelo "grotesco". O "bizarro" toma conta do talento e ocupa todo o tempo de telejornais, programas de variedades e sensacionalistas em geral. Para atrair o público para a frente da tela (ou para o dial em questão), roteiristas, produtores e diretores apelam para o ridículo, o risível.

Mas, como já foi dito aqui, na maioria esmagadora dos casos, falta talento de verdade a esses produtos e, devido a isso, sobra perecibilidade aos mesmos. O prazo de validade das bizarrices é cada vez menor, então, as mídias as exploram à exaustão, criando um círculo vicioso e a necessidade cada vez maior de se substituir rapidamente o grotesco, para manter o interess do público em alta.

E, como nós temos MESMO um interesse estranho pelo grotesco, depois de vermos na televisão a criação da "celebridade", procuramos por ela na Internet, criamos perfis falsos no Twitter, no Orkut, comunidades etc. Eu, mesmo, sou seguido, via Twitter, pelo perfil falso (óbvio) do Zina, o famoso "Ronaldo, brilha muito no Corinthians".

E o caminho inverso também vale: sucessos do Youtube, como a "Stephany Crossfox Amarelo", Rodney Dy e a "Dança do Créu", acabam importados pela TV, em programas popularescos.

Se não gostamos, cabe a nós mesmos filtrarmos o que queremos ou não ver, como eu mesmo fiz, cortando quase completamente a TV da minha rotina, salvo aluns programas que ainda acho interesantes. Eu costumo preferir a mídi impressa e a internet.

Como disse o sábio Gugu, numa passagem da minha adolescência, a nossa TV tem um botãozinho vermelho, seja no aparelho, seja no controle remoto, que nos dá o poder de assistir, ou não, às porcarias que ela exibe.