segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Sobre Mentiras e Omissões


É impressionante que, em plena era da mídia, século XXI, Rádio, TV digital, Internet, Blogs, Twitter etc., as pessoas realmente questionem a legitimidade do poder de fiscalização, controle e questionamento dos três poderes públicos/políticos (Executivo, Legislativo e Judiciário) por parte da Imprensa. Aliás, a definição de "três poderes", principalmente no Brasil, já está muito desgastada.

Um quarto poder vem ganhando força, um poder que eu chamo de "Popular". Desde que me conheço por gente, "pessoas politizadas" (leia-se PeTistas), vêm me ensinando que o povo brasileiro precisava (e ainda precisa) fiscalizar os políticos que elegem, acompanhar seu trabalho, interferir, fuçar, até incomodar aqueles que, via de regra e por definição, são os nossos representantes dentro dos três poderes. Dois, na verdade. O Judicuário não sofre da "interferência popular sazonal".

Realmente, é bastante recente (para não dizer que é inexistente) a vontade do povo brasileiro pela mobilização em função de uma classe política decente, ética e moral. Ela ganhou muita força na última década e tem em dois instrumentos a substituição da luta armada, usada pelo Partido Comunista até a década de 1970: a Internet, grande responsável e facilitadora de movimentos políticos e sociais e da disseminação da educação política de nossos jovens, e a Imprensa, grande ponta de lança do poder Popular, que acelera a mudança do povo brasileiro, visando alcançar aquelas vítimas da exclusão digital e pessoas que ainda apresentam resistência aos jornais de luz e à vida plugada.

É certo que a imprensa tem vícios e as reportagens, via de regra, escondem, por trás das palavras, a tendência política de quem as escreve, mas ela, como a mídia em geral, se apresentou como, não só um instrumento de disseminação das informações, mas, também, uma espécie de polícia investigativa, que espreita por escândalos e corrupções, claro, com fins lucrativos (tudo, no nosso mundo ocidental/capitalista tem esse fim), e que tem, sim, o papel de intrumento social para a fiscalização mais eficiente da classe política.

Acho absurdo que alguns da classe jornalística passe panos quentes na situação e ataque aqueles que cutucam, dizendo que deve-se relevar alguns escândalos em prol de uma suposta "estabilidade" política, econômica e social. É ridículo que aceitemos, seja de quem for, escândalos e corrupções. Na situação em que está o País, precisamos, sim, de uma imprensa que escancare o que há de mais (e menos) sujo em todos os níveis da política nacional, mostre o que há de exemplo a ser seguido e ensine nosso povo que um País sem uma classe política decente não vai nunca chegar à igualdade social que todos nós almejamos.

Num País que alguns jornalistas com tendências políticas tendem a recriminar jornalistas que falam a verdade (seja com qual intensão for), não é de se surpreender que, nas camadas mais pobres da sociedade, o marginal é herói, o traficante é objetivo de vida da criança e o "jeitinho brasileiro" seja disseminado como algo bom, tornando a malanragem regra e criando a cultura de "bolsas família" e afins, que ancoram os menos favorecidos na situação em que estão.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Show do Grotesco


Susan Boyle. Connie Talbot. Mari Moon. Stephany (a do "Crossfox Amarelo"). Zina (o "Ronaldo, brilha muito no Corinthians", do Pânico na TV). Mulher Melancia. Maysa. BBB. Rodney Dy. O que todos tem em comum?

Beleza? Certamente, não todos. Talento? Com exceção das três primeiras (com ressalvas), nenhum. Cérebro? Menos. Mas o que, então, tem todos eles que nos fascina, nos leva a buscar na internet, ver, rever, permitir que nos apresentem, dar audiência a tais elementos completamente dispensáveis às nossas vidas?

Pode verificar: todos são "celebridades" fabricadas pela mídia, feitas para serem "carismáticas" ao menos por um tempo suficiente para que seja fabricada outra, que substituirá a anterior, sem talento ou "carisma" suficientes para entreter as massas por tempo satisfatório.

São descartáveis. Temporários. Perecíveis.

O prazo de validade é curto (das listadas anteriormente, só acredito na continuidade de Mari Moon, que sabe se expressar, e de um ou outro BBB que a mídia suporte, por terem todos a Globo como cartaz), vez ou outra tão curto quanto a paciência do público ou da própria "celebridade" (vejam o caso de Boyle, que, desculpando o trocadilho, "ferveu" MESMO o cérebro e descobriu que sua vida pacata era mais confortável, a despeito de todo seu talento).

Mas "celebridades" fabricadas não são novidade. Elas estão por aí desde que existe a mídia. Para se ter uma idéia, dese que Holywood se tornou uma indústria, ela dependia do famso "Star System" para se vender. Eles perceberam que, quando o ator ou a tariz era conhecido(a) o filme vendia muito mais. Então, eles passaram a "fabricar" esse tipo de "estrela", para que a indústria prosperasse.

Depois, veio a indústria da música (da maneira que a conhecíamos até recentemente) e, com ela, uma maneira peculiar de se "fabricar" estrelas. As gravadoras criaram, desde o início do século, um esquema para multiplicar os dividendos de um artista: primeiro, expor sua música exaustivamente em rádios, fazendo a obra entrar na "boca do povo"; depois, lançar um monte de "artistas-cópia", criando um "pseudo-gênero" e vendendo não só os álbuns do "artista principal" (main-artist, no inglês), mas os das cópias, também.

Veja, como exemplo, gêneros de grupos musicais, como as "boy bands", os grupos de pagode, a exorbitante quantidade de subgêneros do Rock and Roll e, mesmo do já subgênero de Rock, o Heavy Metal, todas as crias de Madonna (Britney, Cristina etc.) e, mais atualmente, as dezenas de Beyonceés.

A fórmula da cópia serve, também, para a TV, e mesmo o cinema se usa de fórmulas-padrão, principalmente o "monomito", ou "Jornada do Herói", de Joseph Campbell (leia mais sobre isso aqui, aqui e até aqui), que funciona muito bem.

Hoje em dia, este esquema ainda existe, mas perdeu a força, devido ao fenômeno da Internet. A maior parcela da população economicamente ativa não depende mais do desejo de gravadoras ou grandes empresas para formar seu gosto, seja musical, audiovisual, artístico, televisivo, enfim, se você quer, você procura, você acha, você decide se gosta ou não.

Apenas a parcela menos favorecida da sociedade, que tem pouco acesso ou acesso restrito ou nenhum acesso à rede, ou aqueles que não tem intimidade com ela ou aqueles que, simplesmente, tem preguiça de vasculhar, acaba vulnerável ao que ráios, emissoras de TV ou interesses de grandes empresas de entretenimento nos enfiam goela abaixo.

Daí vem o cerne da questão: para não perder o poder de controle das massas que faz a mídia vender publicidade e sobreviver, os veículos de comunicação se fizeram valer de uma teoria de Arlindo Machado, que diz que o público se sente atraído pelo "grotesco". O "bizarro" toma conta do talento e ocupa todo o tempo de telejornais, programas de variedades e sensacionalistas em geral. Para atrair o público para a frente da tela (ou para o dial em questão), roteiristas, produtores e diretores apelam para o ridículo, o risível.

Mas, como já foi dito aqui, na maioria esmagadora dos casos, falta talento de verdade a esses produtos e, devido a isso, sobra perecibilidade aos mesmos. O prazo de validade das bizarrices é cada vez menor, então, as mídias as exploram à exaustão, criando um círculo vicioso e a necessidade cada vez maior de se substituir rapidamente o grotesco, para manter o interess do público em alta.

E, como nós temos MESMO um interesse estranho pelo grotesco, depois de vermos na televisão a criação da "celebridade", procuramos por ela na Internet, criamos perfis falsos no Twitter, no Orkut, comunidades etc. Eu, mesmo, sou seguido, via Twitter, pelo perfil falso (óbvio) do Zina, o famoso "Ronaldo, brilha muito no Corinthians".

E o caminho inverso também vale: sucessos do Youtube, como a "Stephany Crossfox Amarelo", Rodney Dy e a "Dança do Créu", acabam importados pela TV, em programas popularescos.

Se não gostamos, cabe a nós mesmos filtrarmos o que queremos ou não ver, como eu mesmo fiz, cortando quase completamente a TV da minha rotina, salvo aluns programas que ainda acho interesantes. Eu costumo preferir a mídi impressa e a internet.

Como disse o sábio Gugu, numa passagem da minha adolescência, a nossa TV tem um botãozinho vermelho, seja no aparelho, seja no controle remoto, que nos dá o poder de assistir, ou não, às porcarias que ela exibe.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Descanse em Paz, Michael

Quinta-feira passada, o mundo musical teve a sua maior perda desde Fredy Mercury.

Michael Jackson pode não ter sido o último criativo da música mundial -- poucos, mas notáveis, tem feito coisas bem legais de 1990 pra cá --, mas, falo com toda a certeza do mundo, foi o último grande.

Como disse Danilo Gentili em sua coluna no jornal Metro, é raro demais ver gente fazendo coisas que ninguém nunca fez antes e pouquíssimos fizeram da maneira de Michael e influenciaram tantos quanto Michael.

Desde o Rock n' Roll até o mais comercial dos "Black Musician" americanos, todos chuparam um pouco de Michael.

Dá para contar nos dedos os que fizeram tanta diferença para a música e a arte na história.

Como disse Marcelo Tas em seu Blog, nenhuma bizarrice, incluindo o noticiário de sua morte, vai apagar o que Michael fez.

E, a exemplo do mesmo Tas, vou deixar aqui o que eu mais gostei da carreira de Michael Jackson. Mas, como sou um cara do audiovisual, não vou me limitar à música. Não vai ser a minha música preferida, mas meu clipe preferido.


O pesar é enorme quanto à morte de Michael.

Descanse em paz.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Mais uma crônica de outra morte anunciada.

Agora é oficial.

Depois de muitas tentativas de contato e de eu ser muitas vezes ignorado, infelizmente, de acordo com nota publicada no site UNIVERSO HQ, a EDIOURO, atual única dona da Pixel, hoje transformada em apenas um selo de quadrinhos dentro da Ediouro, rompeu seu contrato com a DC e não mais publicará as séries dos selos Vertigo, Wildstorm e ABC, que vinham saindo nas revistas Pixel Magazine e Fábulas Pixel, que estão oficialmente canceladas, ou em forma de encadernados e minisséries.

Mais uma vez, os altos prejuízos causados pela baixa vendagem e os altos custos, agravados pela alta cambial e a crise internacional, desta vez, são as desculpas.

O próprio Universo HQ fez críticas às desculpas e, convenhamos, eles esão certos. É fácil demais culpar as baixas vendas e a crise pelos prejuízos, tirando a responsabilidade de si, em vista da parca distribuição, os atrasos e, principalmente, o descaso com campanhas publicitárias para promover o material publicado.

O público leitor de quadrinhos juvenis e adultos aqui, no Brasil, já é ridículo. Já é conhecido que, aqui, lemos Mônica, e só. A tiragem de outras revistas em quadrinhos é baixíssima. A Panini consegue sobreviver neste mercado devido à grande quantidade de títulos e muita competência na divulgação do material. A Wizard (Wizmania) não é apenas uma forma de propagar notícias, mas, também, uma jogada genial de marketing.

Nada, em lugar nenhum, sobrevive sem divulgação, ainda mais se você levar em consideração que não é cultura do brasileiro ler, muito menos histórias em quadrinhos. O estigma de subliteratura sobrevive firme e forte por aí. Materiais como Sandman, Fábulas, Hellblazer,   Preacher e Monstro do Pântano são tão bons quanto surpreendente para 90% da população que, quando faz amizade com um indivíduo que lê quadrinhos discretamente (porque, quando ele torna pública a paixão dele por quadrinhos, imeditamente é marginalizado e rotulado como "infaltil" ou "nerd" ou qualquer coisa perjorativa -- não que nerd, hoje, seja perjorativo -- que você imaginar), acaba pegando na mão um material destes e percebe que o preconceito que tinha com os quadrinhos até aquele momento era apenas isso, mesmo, e que quadrinhos podem ser dirigidos para um público maduro, que espera boa literatura.

Acreditar que simplesmente a qualidade, indiscutível, do material vai fazê-lo vender, por si só, é uma ingênuidade que o mercado brasileiro não perdoa. E achar que São Paulo sozinha vais sustentar o selo também é primário. E São Paulo, quando eu digo, é a cidade, e não o Estado. Até pouco tempo, eu estudava em São Carlos e, até hoje, costumo comprar as minhas coisas em Santos, onde passo meus fins de semana e sei que é virtualmente impossível encontrar material que não seja mangá e Panini (esta última, também, com alguns problemas de divulgação) a não ser em bancas especializadas e, mesmo assim, há muito material que, nas poucas vezes que chega, é irregular, faltando edições etc.

Pra citar o caso mais crítico, em São Carlos, onde eu estava quando a Pixel começou a publicar a Pixel Magazine, eu esperava um mês inteiro depois da revista chegar em São Paulo para uma única revistaria da cidade receber três exemplares (quando muito) e um era meu!

Vamos levar em conta, aqui, também, que o trabalho editorial, incluindo qualidade gráfica, tradução, escolha dos títulos, maneira que eram publicados, preço etc., era excelente.

Mas o mercado brasileiro é cruel com quem comete erros com ele.

Só nos resta esperar que alguém pegue este material e dê continuidade, senão nos mesmos moldes, ao menos publique até o final as obras que chegamos, até, a nos acostumar em ler e a esperar o(s) mês(es) inteiros nsiosamente pela continuação.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Haja o que houver, não tome a bebida

Quando eu cheguei naquele bar, já passava das duas da manhã. Tinha andado por mais de três horas, tentando saber onde eu estava, pra onde eu estava indo e como eu chegaria em casa.

Maldito dia.

Não bastasse o trabalho frenético, as horas extras que ninguém nunca me pagaria e o seqüestro relâmpago, do qual, infelizmente, eu saí vivo, os caras ainda me deixaram num lugar onde eu nunca estive.

As ruas são todas idênticas.

Ainda se eles tivessem me deixado o celular, ou algum dinheiro, mas não. me deixaram aqui sem nenhuma chance de descobrir onde estou.

É madrugada e, pra completar a minha sorte, o céu não tem nem lua, nem estrelas. se eu fosse calmo o bastante, esperaria o sol nascer -- se é que ele vai nascer --, para poder, ao menos, me guiar por suas direções, mas, ao invés disso, eu andei. Sem nenhum rumo, atrás de uma porta de garagem aberta com dois ou três pinguços jogando sinuca que possam me dar alguma direção.

Olho no meu relógio -- tão vagabundo que eles não quiseram levar -- e já são quase três da manhã. O boteco parece ser gerido pelos pinguços. Fico esperando uma eternidade, encostado no balcão, e ninguém aparece. Fico tentado a pegar a batatinha que está pendurada na estufa vazia, mas, ao contrário daqueles que me largaram nesse fim de mundo, não sou ladrão e tenho princípios. Eu espero. Às três e quinze, entra pela porta de clientes uma jovem. Acho exótico, afinal, era uma moça bonita, casualmente vestida, no meio da madrugada, num boteco de quinta num fim de mundo.

Tudo fez sentido quando ela passou para dentro do balcão. Ela me olhou de soslaio, quando eu só consegui balbuciar um "moça...", e se virou, já com um copo americano em mãos e uma garrafa de cachaça entornando o copo, que ela coloca na minha frente.

"Moça, me desculpe, mas não vou poder pagar por isso", foi a primeira coisa que me ocorreu a dizer, em reação ao copo de pinga. "Beba logo. O que veio fazer aqui, afinal? Posso te garantir que não foi por acaso que chegou aqui".

Legal. Agora, estou perdido num bar no meio do nada, às três da manhã, e a dona do bar é louca. Tentei parar com o turbilhão de informações e possibilidades que passavam pela minha cabeça para me concentrar no meu problema principal. "Moça, eu fui sequestrado e largado a uns sete quilômetros daqui. Faz três horas que estou andando e só vejo casas e árvores. Seu boteco é o primeiro indício de que existe vida nessa cidade fantasma. Você pode me ajudar com um troco e me informar onde eu posso pegar um ônibus para o centro?"

Ela deu uma pequena risada que, olhando pelo lado positivo, ao menos, mostrava que ela havia prestado atenção em mim. "Aqui não passa ônibus, moço", me respondeu. Ela tinha uma voz feminina e bonita, apesar do peso e do tom das frases que ela proferia. "Nem tem 'estabelecimentos comerciais', como 'cê mesmo chamou minha espelunca. Eu não tenho dinheiro. A única coisa que eu tenho pra te ajudar, eu já te dei. Agora, bebe logo, se é que você quer sair dessa."

Eu não conseguia acreditar na insanidade dela. No que um copo de cachaça iria me ajudar naquela altura do campeonato? No mínimo, eu iria ficar bêbado e virar mendigo até ser achado por alguém em alguma sargeta, por aí.

"Eu não posso beber, moça. Estou perdido, preciso achar a minha casa!"

Ela se virou para mim com uma cara zangada, porém, complacente. "Tá bom. Você não quer fazer do jeito fácil, né? Então, vem comigo, eu vou te ajudar", disse ela. Eu quase não conseguia mais acreditar na falta de sentido em qualquer frase que ela proferia. Ela era insana! E estava me convidando a entrar numa pequena porta que tinha ao lado de sua estante de bebidas, quase escondida.

Três e meia. Essa era a hora, e dois dos três bebuns já haviam ido embora. Ela percebeu que eu olhei para eles: "não se preocupe, não há o que roubar, aqui. E mesmo se houvesse, não o fariam. É tarde demais."

Mais uma. Talvez eu comece a contar a quantidade de frases sem sentido que essa mulher soltar daqui por diante. Mas o mais estranho é a confiança que eu sinto na figura dela. Qualquer pensamento de ela é uma psicopata se esvai rapidamente no momento que fixo meus olhos naquela mulher. 

Apesar disso, eu reluto um pouco a levantar do meu banquinho, mas acabo aceitando o convite e a sigo para dentro da porta.

É um corredor tão estreito que eu mal posso passar por ele de frente. Ela não sente dificuldade nenhuma: seu corpo é esguio e o corredor parece feito para ela. Sua pele é tão branca que, se não estivesse tão escuro, eu poderia ver através dela. Seu cabelo, negro como a noite de hoje, é grosso, liso e comprido até a cintura fina da jovem. Cinco metros adiante, uma escada, ainda mais estreita.

Quando, com muita dificuldade, eu chego ao porão, ao fim da escada, sinto um calafrio. O lugar é,  a exemplo da roupa a jovem, todo preto. Só enxergamos algo   graças a uma pequena lâmpada pendurada num fio de eletricidade no meio do teto baixíssimo. Livros e mais livros cobrem as pequenas paredes, além de pilhas de livros antigos e enormes espalhadas pelo pequeno chão. Quem diria, a jovem e maluca dona de uma espelunca frequentada por bêbados é uma louca, também, por leitura.

Ela ajeita algumas pilhas de livros de forma que eles componham um banco e senta, dizendo para eu fazer o mesmo com outras pilhas. Eu o faço e, assim que eu sento, ela começa um interrogatório.

"O que você acha que veio fazer aqui, neste lugar?", foi a primeira pergunta que ela fez.

"Nada. Fui vítima de um sequestro relâmpago. Levaram meu carro, meu dinheiro, meus pertences, meu telefone. Me largaram no meio do nada, de noite, num bairro onde não existem pessoas. Pudera. Andei alguns quilômetros e não achei um lugar onde alguém poderia comprar sequer um pão."

"E você tem absoluta certeza de que o fato de estar aqui é por acaso?"

"Claro que sim. Isto é tão óbivio quanto o resultado de um mais um. Eu fui largado num bairro onde nunca estive na vida e vaguei por três horas seguidas sem direção. Só parei quando achei seu bar, para pedir uma ajuda e informações. Ao invés disso, fui convidado a beber um copo de cachaça e, ao negar, fui trazido a um quarto preto onde estou respondendo a um interrogatório sem sentido e, a propósito, não sei por que. Acho que vou continuar procurando alguém normal para me ajudar a sair desse fim de mundo."

Eu me levanto em direção à porta, quando sinto sua delicada mão direita segurar meu braço direito com uma convicção que nunca havia visto antes. Ela tinha um semblante de pena por mim que já começava a me irritar.

"Se quer mesmo sair daqui, é melhor escutar o que tenho para falar. Se sair deste boteco, não verá ninguém até o Sol nascer. Quando o Sol nascer, vai desejar que ele se ponha logo. E, quando ele se puser, vai achar este lugar aqui, de novo, e não vai mais dizer não à minha cachaça."

Aquilo me assustou. Inexplicavelmente, eu sentia, no fundo, que ela sabia o que estava dizendo. Ela me leva a mais uma porta e, estranhamente, saímos num lugar diferente. Rapidamente percebo que é um cemitério e que está garoando. andando mais um pouco, vejo pessoas. Mais perto, vejo que conheço estas pessoas. É um velório, provavelmente, de alguem que conheço. Não sei como cheguei aqui, mas deve haver algum significado.

Ela pára , me segura e me faz a última pergunta: "você foi feliz em sua vida? Acha que tem algo a dizer a alguém? Sente que ficou faltando fazer algo?"

Estranhamente, eu sabia a resposta. Não. Já havia feito tudo. Não havia deixado nada para trás. Claro que, agora, me dava vontade de entrar naquela sala e dizer à minha mulher o quanto eu a amo, ou para a minha filha o quanto ela significa para mim, mas, provavelmente, não era disso que ela falava.

Minha vida foi intensa. Até este momento, eu já havia realizad todos os meus sonhos, e não fazia mis sentido continuar. Se fui uma boa pessoa? Acredito que sim. Nunca deixei de ajudar quem precisava de mim. Sempre fiz o que sentia ser melhor para a minha família.

Talvez fosse a hora de partir, mesmo.

Ela soltou um sorriso. Me disse que eu podia sussurrar no ouvido de minha mulher palavras de alento e, depois, voltar, para completar minha jornada. Foi o que fiz.

"Querida, te espero aqui. Haja o que houver, não aceite a bebida. Te amo e continuarei te amando pela eternidade, haja o que houver em sua vida depois de minha morte. Cuide bem da nossa filha."

Quando eu volto, há uma porta no meio do nada. A moça de preto abre a porta para mim, e eu sinto, ao passar pela porta, que não vou ficar aqui por muito tempo. Pelas conversas, vou voltar à minha família. Vou ter o meu mesmo sangue. Vou ser meu próprio filho. Mas não saberei disso quando estiver lá.

Que bom. Viver é gratificante quando se vive ao lado de pessoas como minha mulher. Pessoas que amamos e que cuidam de nós. Pessoas que nos ajudam a fazer o bem. 

Joe Satriani versus Coldplay

Pra quem não sabe, Joe Satriani está processando o Coldplay por plágio.

O motivo do processo é a música "Viva la vida".

Pra saber mais:


Eu não sou músico, muito menos professor de música. O máximo que eu entendo de música é gravar no Audition e no ProTools, sem deixar o som clipar e jogar o metrônomo pro retorno do baterista, mas esse cara não só entende de música, como é professor teórico e prático:



Assistindo aos dois vídeos, podemos perceber a cara de pau de Chris Martin e Cia. Ltda.

Agora, não é preciso ser PhD em teoria de som e movimentos harmônicos, nem entender inglês, pra sentir a semelhança:


E aí, o que vocês acham?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O tempo e a poeira

Nossa, quanta poeira... cof, cof...

Como consegui ficar tanto tempo sem entrar neste lugar? Olha aquilo! Está tudo jogado... exatamente do jeito que deixei na última vez que vim para escrever alguma coisa. Olha só pra esta escrivaninha... tantos rascunhos... ideias rasgadas, amassadas... algumas tão boas. Nem sei por que sou tão cruel com as minhas próprias ideias: às vezes me dou ao privilégio de contar verbalmente algumas a interlocutores, e elas parecem tão boas saindo da minha boca... as pessoas se empolgam, dizem que eu deveria dar continuidade, mas, quando as coloco na tela, dou rítmo às teclas do computador, como um piano clássico e suas notas rápidas, as ideias não parecem mais tão bonitas e ficam emperradas no primeiro capítulo.

Ao lado da minha escrivaninha, minhas fontes de inspiração: meus discos do Queen, os livros do Gaiman, O Código DaVinci... como eu queria saber mais de criptografia... tudo fazendo uma enorme pilha no chão... cheios de poeira, do tempo que não os toco, desde a última vez que os li em busca de refresco para meu cérebro. Alan Moore, uma vez, disse que, quando ia escrever algo, não lia nem via nada, para se limpar de influências. Besteira. Todas as histórias que são boas têm um punhado ou dois de bases e referências.

Vou confessar, o trabalho do dia-a-dia atrapalha um pouco. O estress e a obrigação de se sobreviver na megalópole serve como uma borracha, que vai apagando as ideias antes mesmo delas tomarem forma. E isso se agrava quando se tem dois empregos. Males do começo de carreira. Para se formar um salário decente, transformamo-nos em vários. Para pagar o aluguel e, ao mesmo tempo, podermos sair com a namorada no fim-de-semana, sacrificamos cada minuto dos dias úteis.

E, assim, sacrificamos muitas de nossas ideias. Muitas historias se perdem no cansaço, mesmo tendo sido sonhadas, ou elaboradas em detalhes durante uma viagem de trem ou ônibus. Em cima da minha escrivaninha, tenho a minha prancheta.

Os rabiscos são bonitos. Eu desenhava muito bem quando tinha tempo. Hoje, preciso de muito tempo para fazer um rabisco minimamente decente. E pensar que, quando eu era apenas um aluno universitário, ficava contando os dias para a minha formatura, para entrar no mundo profissional e colocar em prática a profissão que escolhi para mim com tanto gosto. Não que eu não goste do que faço durante o dia. Eu amo o que faço. Mas parece tão pouco... tão pouco dentro do oceano criativo dentro do qual me via durante os tempos acadêmicos (os de aluno, não os atuais).

Quando se é jovem, se quer abraçar o mundo. À época, fui alertado por um sábio professor de que é melhor sonhar com coisas mais palpáveis, para que se atinja o objetivo e não haja frustrações. Mas não quis acreditar, por sentir que o tempo era meu aliado.

Mas o tempo, no qual eu surfava, se tornou uma onda forte e agressiva, que me espreme nos recifes de corais da realidade, me machuca. Mas eu não vou desistir. Pegarei uma onda ainda maior, desafiarei seu tubo e vencerei.

Mas falando em tempo, o relógio sobre a escrivaninha, mesmo com uma enorme teia de aranha em sua lateral, me avisa que já é tarde.

Eu me levanto, vou até a porta do porão e, já sob a luz do corredor, apago a vela e prometo a mim mesmo limpar a bagunça e tirar a poeira de tudo amanhã, quando o sol iluminar a janela.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Nossa Terra-de-Ninguém

Às vezes, a gente pensa: "por que a vida é uma m***a?"


"Por que tem que dar sempre errado? Por que tem sempre que ser do jeito mais difícil? Por que eu tenho sempre que brigar?"

Tem uma classe sempre odiada por muitos, inclusive por mim, mas que não é a dos advogados, mas a dos operadores de teleatendimento. Mas, pensando bem, a culpa não é deles?

O que você vai exigir de uma pessoa que mal fez o segundo grau, que só segue um maldito livrinho de respostas prontas que está sempre a tiracolo? O cara ganha uma miséria por mês, não recebe o menor investimento do patrão para se preparar a resolver os problemas que deveria resolver.

E por que isso?

Porque vivemos no Brasil, e esse país é a maior terra-de-ninguém do mundo!

Não importa que o governo deixou de prestar um serviço ao povo e esse serviço passou a ser prestado por uma "concessionária".

Esse serviço é regulamentado e, ainda que uma empresa privada, recebe subsídio, dinheiro do imposto que nós pagamos, para nos prestar.

Além do imposto, nós PAGAMOS para recebermos o serviço. E pagamos caro. Enquanto, nos EUA, a internet banda larga é uma cortesia das empresas de telefonia e, no Japão, a recepção de HDTV via celular 3G é gratuita, esses serviços são prestados, aqui no Brasil, a peso de ouro.

Mas, mesmo sabendo disso, nós pagamos pelo serviço. E ficamos satisfeitos enquanto ele nos é prestado. Mas, uma vez que ele não nos é prestado, nós recorremos ao teleatendimento. E é aí que nossa vida vira um inferno.

O descaso e a insistência deles em querer te irritar e te fazer querer desistir de lutar por seus direitos, além do despreparo dos teleatendentes, que deixa nossos nervos à flor da pele, é tanta que você chega a pensar em realmente fazer do jeito deles.

Mas não.

Vou continuar me defendendo e defendendo o meu direito de comprar o que eu quiser, quando eu quiser, pois é para isso que eu trabalho: para ter as minhas coisas e viver a minha vida da maneira que eu quero viver.

A Sony Ericsson, no momento, encabeça a minha lista negra, seguida pela Telefonica, Embratel (NET), Casas Bahia (ninca mais piso naquele lugar) e a Claro está por um fio para entrar nessa lista.

Se, por um acaso, eu demorar muito tempo, novamente, para postar neste Blog, é porque minnha briga com a NET deu num beco que não tem mais saída.

Até.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Peace on Earth for the men of goodwill

Olha, eu sei que é o primeiro post do ano, e eu adoraria falar de cultura, cinema, quadrinhos ou qualquer coisa que é o mote original deste Blog, mas não deu.

"I'm gonna start a revolution from my bed", como diria John Lennon. "Não deixem a guerra começar", diria Renato Russo, logo após dizer que "nenhuma guerra pode ser santa", pois "isso é uma contradição em termos".

Vamos fazer uma analogia?

Vou ilustrar uma situação:

Imagineque você tem dois vizinhos. Os Souza e os Correia. Eles se odeiam, não podem olhar uns nas caras dos outros. Os Souza moram do outro lado da rua, e os Correia moram nos fundos da sua casa. Os Souza são um pouco mais civilizados, não mexem com ninguém, preferem não encontrar os Correia, mas os Correia, que já foram donos da casa dos Souza, mesmo que não por direito, querem porque querem ver a família rival longe da vizinhança.

Ambas as famílias têm fábricas de fogos de artifício: os Souza têm uma grande, tecnológica, de última geração. Os Correia têm uma na edícula da casa deles.

Os Correia, como querem os Souza fora da vizinhança, os azucrinam, mandando, o dia inteiro, bombinhas de mil na janela da sala, que é o máximo que elas alcançam, mas os Souza, pacientemente, não respondem aos ataques. Negociam, pois a vizinhança toda está de olho. Levantam muros, tentam dificultar as coisas.

Mas, um dia, uma bombinha de mil passa a janela, que estava aberta, e machuca o bracinho da pequena filha do senhor Souza.

Irado, ele vai até o estoque, pega seus melhores fogos, arma todos no teto de sua casa e começa a atirar, só que ele não dá a mínima para o fato de que a casa dos Correia é uma casa de fundos, e, praticamente, demole a sua casa, antes de fazer o mesmo com a casa de seus inimigos.

Outra analogia:

Houve um sequestro no banco. um assaltante se tornou assassino, quando, ao escapar, usando uma refém de escudo, atira e mata um policial que fazia a escolta. Irado, outro policial atira, bem no peito da refém, pois sabia que, assim, atingiria o coração do assassino, o matando.

Você concordaria com a atitude do senhor Souza?

E com a do policial?

Pois é. Quase mil mortos na Palestina, desses, aproximadamente 90% civis, contra onze israelenses mortos, dos quais, oito soldados. Uma reação desproporcional, irracional, comparável ao que os judeus sofreram no Holocausto. É idsso que estamos falando.

Sempre há um outro meio. Tem de haver. Eu não posso me sentir no direito de matar gente inocente só porque meu vizinho mata gente inocente. Isso é covardia. Isso é se rebaixar ao mesmo nível do outro.

Não estou sendo puritano, sou a favor da pena de morte, mas acho que você deve matar quem mata, e não quem serve de escudo para quem mata. Israel é um país rico com um exército que ousa se autoproclamar "o mais bem preparado do mundo", mas não é capaz de dar um jeito melhor para isso!

Uma guerra que custa 8 milhões de dólares ao dia, que mata 100 vezes mais de um lado do que de outro, que cada tiro saído de uma pistola especial custa 2500 dólares, enquanto milhões morrem de fome na África, na Ásia e aqui, na América.

Qual é o preço do sangue de gente inocente?

Qual é o real preço de uma guerra?

Será que o que a geração de sessenta nos ensinou não vale pra nada?

"LET'S GIVE PEACE A CHANCE"