sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O tempo e a poeira

Nossa, quanta poeira... cof, cof...

Como consegui ficar tanto tempo sem entrar neste lugar? Olha aquilo! Está tudo jogado... exatamente do jeito que deixei na última vez que vim para escrever alguma coisa. Olha só pra esta escrivaninha... tantos rascunhos... ideias rasgadas, amassadas... algumas tão boas. Nem sei por que sou tão cruel com as minhas próprias ideias: às vezes me dou ao privilégio de contar verbalmente algumas a interlocutores, e elas parecem tão boas saindo da minha boca... as pessoas se empolgam, dizem que eu deveria dar continuidade, mas, quando as coloco na tela, dou rítmo às teclas do computador, como um piano clássico e suas notas rápidas, as ideias não parecem mais tão bonitas e ficam emperradas no primeiro capítulo.

Ao lado da minha escrivaninha, minhas fontes de inspiração: meus discos do Queen, os livros do Gaiman, O Código DaVinci... como eu queria saber mais de criptografia... tudo fazendo uma enorme pilha no chão... cheios de poeira, do tempo que não os toco, desde a última vez que os li em busca de refresco para meu cérebro. Alan Moore, uma vez, disse que, quando ia escrever algo, não lia nem via nada, para se limpar de influências. Besteira. Todas as histórias que são boas têm um punhado ou dois de bases e referências.

Vou confessar, o trabalho do dia-a-dia atrapalha um pouco. O estress e a obrigação de se sobreviver na megalópole serve como uma borracha, que vai apagando as ideias antes mesmo delas tomarem forma. E isso se agrava quando se tem dois empregos. Males do começo de carreira. Para se formar um salário decente, transformamo-nos em vários. Para pagar o aluguel e, ao mesmo tempo, podermos sair com a namorada no fim-de-semana, sacrificamos cada minuto dos dias úteis.

E, assim, sacrificamos muitas de nossas ideias. Muitas historias se perdem no cansaço, mesmo tendo sido sonhadas, ou elaboradas em detalhes durante uma viagem de trem ou ônibus. Em cima da minha escrivaninha, tenho a minha prancheta.

Os rabiscos são bonitos. Eu desenhava muito bem quando tinha tempo. Hoje, preciso de muito tempo para fazer um rabisco minimamente decente. E pensar que, quando eu era apenas um aluno universitário, ficava contando os dias para a minha formatura, para entrar no mundo profissional e colocar em prática a profissão que escolhi para mim com tanto gosto. Não que eu não goste do que faço durante o dia. Eu amo o que faço. Mas parece tão pouco... tão pouco dentro do oceano criativo dentro do qual me via durante os tempos acadêmicos (os de aluno, não os atuais).

Quando se é jovem, se quer abraçar o mundo. À época, fui alertado por um sábio professor de que é melhor sonhar com coisas mais palpáveis, para que se atinja o objetivo e não haja frustrações. Mas não quis acreditar, por sentir que o tempo era meu aliado.

Mas o tempo, no qual eu surfava, se tornou uma onda forte e agressiva, que me espreme nos recifes de corais da realidade, me machuca. Mas eu não vou desistir. Pegarei uma onda ainda maior, desafiarei seu tubo e vencerei.

Mas falando em tempo, o relógio sobre a escrivaninha, mesmo com uma enorme teia de aranha em sua lateral, me avisa que já é tarde.

Eu me levanto, vou até a porta do porão e, já sob a luz do corredor, apago a vela e prometo a mim mesmo limpar a bagunça e tirar a poeira de tudo amanhã, quando o sol iluminar a janela.

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