quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

As várias facetas do "fenômeno" TROPA DE ELITE

Você já deve ter assistido ao filme TROPA DE ELITE. Sabe que ele é, realmente, um bom filme, com um mote interessante, um roteiro bem escrito, com uma história bem contada e bem dosada, bons atores fazendo bem seus papéis, com um destaque especial para Wagner Moura, semre muito bem, mas, desta vez, dando um show em seu papel, uma fotografia bem localizada, cheia de contraste (até lembra, um pouquinho, a fotografia dO INVASOR), com enquadramentos bem planejados (tem closes fortes e freqüentes, mas não como OLGA, que chegava a irritar),uma montagem flúida, rápida e bem técnica, sem contar o trabalho do diretor, que foi, realmente, muito bem neste filme.

O problema com TROPA DE ELITE não é esse. Competentemente, o filme angariou milhões de pessoas às suas salas de cinema, muito "ajudado" pela publicidade indesejada da pirataria, que já tinha o filme antes do cinema, mesmo que com ligeiras alterações (confesso não ter visto tanta diferença assim, apesar de ter tido a impressão de que, no cinema, a montagem estava mais decidida, menos insegura), mas, mesmo assim, competentemente.

O que me preocupa é a impressão de que as pessoas não entenderam o sentido do filme. Apesar de o filme estar bem dosado e não ter nenhuma cena de violência gratuita, os espectadores do mesmo parecem ter sido vidrados pela ação frenética e a tensão do filme, deixando de lado o discurso politizado e muito bem colocado do diretor/roteirista. Jovens que saem da sala de cinema cantando o funk do "parapapa", sem perceber que ele é uma ode àquele poder paralelo, que aterroriza, hoje, não mais só o Rio de Janeiro, mas o Brasil interio, viciando nossos jovens, corrompendo nossos policiais.

Gente que toca o mesmo funk em quase todos os carros, hoje em dia! O cara vai trabalhar escutando aquilo!

Depois disso, não é difícil pensar que ninguém sentiu o "tapa na cara" da classe média que o filme dá, bem dado, e dentro dessa classe e das pessoas que sofrem o golpe eu preciso me incluir, apesar de eu ter consciência de que quero mudar a minha atitude, e venho mudando de uns tempos para cá.

Tudo, e eu disse TUDO, o que o filme mostra é a mais absoluta verdade! A polícia é, sim, corrupta. Sim, existem excessões. Sim, o tráfico PRECISA acabar, e o primeiro setor que precisa se mexer para que isso aconteça é a classe média brasileira.

Isso porque somos nós que compramos as drogas. Nós, que, um dia, fomos universitários e, sim, fizemos parte de festas onde rolou muita coisa além da bebida, e NÓS TODOS sabemos disso, NÓS TODOS somos hipócritas o suficiente pra lamentar todos os assassinatos, assaltos e seqüestros-relâmpago dos quais somos vítimas, nos alegamos inocentes, mas não somos, e todos sabemos disso.

Não, não precisamos concordar em gênero, número e grau com os métodos utilizados pelo BOP dito "fictício" do filme (eu adoraria que o BOP de verdade viesse a público, não pra desmentir o filme, mas pra dizer que é tudo verdade), mas temos que saber que Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Brasília e tantas outras cidades estão em guerra. E, para vencer uma guerra, é necessário agir com táticas de uma.

Não estou dizendo para nos fardarmos todos e sairmos matando traficantes. Só estou dizendo: deixem as pessoas fazerem seus respectivos trabalhos, e colaboremos, não nos tornando consumidores daquilo que financia essas verdadeiras guerrilhas não-reconhecidas, que estão tomando conta do nosso país.

P.S.: Não comprei a versão pirata de camelô algum, não a havia assistido antes de o filme sair no cinema, assisti o filme primeiro no cinema e só assisti a versão pirata porque uma caiu no meu colo e fiquei curioso em saber das diferenças.

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