quinta-feira, 8 de maio de 2008

Créu, Quadrado, Outros e o desabafo

Vamos falar de música?

Música?

Estava eu rondando blogs por aí, e senti que tinha que falar um pouco da mediocridade do público "musical" brasileiro. Cara, se eu quisesse abrir o "Frut Loops", o "Audition", escrever umas baboseiras ridículas (nunca escrevi, mas minha namorada é testemunha de como sou bom em criar essas idiotices no modelo que o mercado gosta), gravar, enfiar uma coisa em cima da outra e fazer o maior sucesso!

Aliás, por que eu não faço isso? Eu ganharia, aí, alguns milhares de reais, talvez milhões, e poderia fazer o que quisesse da minha vida, à partir daí. Fora, talvez, ter que enfrentar o estigma de pessoas como eu mesmo, que preferem pessoas que não se submetem ao ridículo na vida...

A história fonográfica popular brasileira prova que o povo gosta do grotesco, mesmo, mas sabe que isso é grotesco e, quando alguém que se submeteu a isso tenta não mais se submeter, está fadado(a) ao fracasso.

Mesmo assim, a fábrica do grotesco não pára, e está cada vez mais grotesca. Gretchen e Rita Cadillac eram grotescas, como muita coisa que passava pelo Chacrinha, mas não foram nada comparadas a É o Tchan (que chegou a se chamar Gera Samba), que não se compara às personagens Tiazinha e Feiticeira, que, por sua vez, não se comparam à Dança da Motinha (sic), ou o Funk do Tigrão, que não se compara à "grotesquice" da Dança do Créu, que já foi ultrapassada pela já "famosa" Dança do Quadrado.

Dentre uma ou outra "grotesquice" que citei acima, existem milhares de outras, algumas com duração considerável (temos que aturar os frutos do É O Tchan até hoje), outras, às vezes, graças a alguma intervenção divina (não tenho religião, mas isso não vem ao caso, agora), duram menos que uma semana.

Mas o fato é que, se existe a oferta, é porque existe uma demanda.

E é isso que me assusta!

Para haver a oferta tão abusivamente abundante, alimentada pelo mercado das revistas de mulheres nuas, "Brasileirinhas" em geral, Domingões, Legais ou não, Chacrinhas, Bolinhas, Elianas, Serginhos, Mallandros ou não e programas de humor em geral, precisa de uma demanda igualmente montruosa.

E isso explica porque não conseguimos nos manter alheios a essa "promiscuidade grotesca gratuita". Não é justo, eu sei, pois procuramos saber, sempre, de novidades do cenário alternativo de qualidade, nem sempre tendo sucesso, e ainda costumamos nos deparar com algum imbecil movido a "Mulheres-Melancia" que nunca ouviram falar em "Hitchhiker's Guide to The Galaxy" ou que nunca sequer escutaram um acorde de Jack White, ou pior, nunca ouviram falar de Queen, mas nós estamos facilmente vulneráveis a "Créus" e "Quadrados", gritados e "hinificados" pelos quatro cantos da sociedade, repleta de babacas donos de sons potentes em carros ridículos, ou mesmo sons não-potentes, mas que adoram obrigar os outros a escutar o que eles escutam, ou a programas de TV, retro-alimentados de "grotesquidão", que só vendem publicidade atraindo os mesmos fúteis que você encontra nas ruas, em barzinhos, ou em qualquer ambiente fechado, seja qual for o nível de graduação do indivíduo.

Tal cultura nacional resulta em pessoas que não concebem que "uma pessoa vá a um lugar escuro e, simplesmente, se sente em frente a uma tela enorme, durante duas horas, sem proferir uma palavra". Isso porque ela não sabe que o silêncio é a maior das sabedorias, que a cultura se adquire em silêncio e que, sabiamente, Romário já dizia que, caladas, algumas pessoas são "poetas" ou "poetizas".

Desculpem os neologismos.

Nenhum comentário: