terça-feira, 22 de abril de 2008

Isabella, o Big Brother e o Ibope

Acho estranho, mas fácil de entender, este circo todo, armado em volta do assassinato da pequena Isabella, assunto este sobre o qual qualquer brasileiro, não me excluindo desta, tem sua opinião mais do que formada.

Numa época em que se vê que o Big Brother está dando mais audiência que a novela do horário nobre, vê-se que a classe média brasileira, maioria no País, quer ver, mesmo, o "circo da vida real". Aquele que você, antes, poderia ver, simplesmente, batendo papo com a vizinha de muro, mas que, hoje, teve o acesso restringido pela vida atabalhoada dos grandes centros.

A mesma classe média que não quer nem saber quantas crianças morrem de overdose nos sinais de trânsito da cidade, porque compraram cola com o dinheiro que conseguiram das esmolas que a classe média deu a elas. A mesma classe média cujos filhos financiam o tráfico nas favelas, e nem querem saber quantas crianças morrem baleadas na guerra constante entre traficantes, ou entre o tráfico e a polícia. Isabella é apenas mais uma entre tantas.

Claro que o assassinato sumário de uma menina de cinco anos, provavelmente pelo próprio pai, é horrendo e merece que investigações profundas sejam feitas até que se ache o culpado e, feito isso, que o mesmo pague com pena máxima (melhor que fosse a morte) pelo que fez.

Mas ficar duas semanas falando apenas disso, com direito a "flashes" ao vivo, de meia em meia hora do Domingo, sempre dizendo "daqui a pouco voltamos com mais informações" e voltando para dizer sempre a mesma coisa, cobrindo cada passo de cada um dos envolvidos no caso, transformando a mãe da menina numa popstar nacional, com direito a participação em show do feriado de Tiradentes é absurdo!

É simplesmente ridículo que um caso como este tome estas proporções, com tanta coisa mais importante acontecendo no País! É o velho "pão e circo", com direito a sangue e gladiadores, tomando sua velha função! E o povo cai como patinhos, afinal, não há nada melhor do que a boa e velha "fofoca" o que se passa na cabeça de um escritor de folhetim se tornou ultrapassado, diante da imprevisibilidade da final de um Reality Show. O que se dirá, então, quando o final deste Reality Show não depender, simplesmente, de ligações populares, mas de um estudo científico minucioso, do qual o povo não faça a menor idéia de como aconteça, mas que delicia os mesmos populares, quando um jornal sensacionalista reproduz a cena do crime?

Isabella é uma vítima, mas a maior vítima de tudo isso é o Brasil, que se encontra cego, ao tentar saber quem a matou, ao invés de se preocupar com o panorama geral da coisa, ou com outras coisas que estão acontecendo e que, essas sim, vão mudar, definitivamente, o curso da vida de todos.

Afinal, ninguém mais fala de aquecimento global (esse, sim, cutuca o traseiro fétido da classe média), etanol, Petrobrás, barreiras comerciais ou corrupção. A única coisa que está na boca do povo é Isabella.

Um comentário:

Cah Cyg disse...

Concordo plenamente com oq vc disse...nao que esse asunto nao seja importante...mas há tanta coisa que merece maior atençao...
A historia se repete e a politica do pao e circo funciona mto bem, como antes!
Só me pergunto uma coisa...até quando?

Mtoooo bom seu blog Luiz...bjo!