domingo, 20 de janeiro de 2008

A Morte de Batman (e os eventos editoriais que já estão dando no saco)

Bruce Wayne irá morrer. E será no evento "Crise Final" (Final Crisis, em inglês). Isso era o que dizia a coluna de Rich Johnston, do COMIC BOOK RESOURCES, site com notícias e fofocas de quadrinhos. Mas o mesmo colunista já diz que a morte foi vetada pela Warner Bros., dona da DC COMICS e detentora dos direitos sobre a personagem, investidora de milhões e milhões de dólares nos filmes do morcegão. Isso traz à tona uma discussão polêmica: até onde podem ir os roteiristas de quadrinhos? Até onde eles podem mexer com personagens, até quando a indústria americana terá de ser sustentada por grandes "crises" e plots escabrosos e até quando as boas histórias terão de ser podadas pelo conservadorismo do mercado, que teme perder um nome de peso numa das maiores franquias do mesmo, a maior franquia da editora?
Há algumas semanas, eu falei aqui sobre como andam mal das pernas os roteiros de quadrinhos de super-heróis. Hoje, por mais que se esforcem Geoff Johns, Grant Morrison, Mark Millar e outros bons roteiristas que temos hoje em dia, é humanamente impossível você ter criatividade suficiente para suplantar as barreiras editoriais que existem hoje.
Anos atrás, os X-Men eram uma franquia de trinta anos. Um sucesso estrondoso que, há mais ou menos uns cinco anos da data referida, apesar de se manter no topo das vendas da ápoca só com o nome da revista, não tinha um roteiro que prestasse. Até entrar Grant Morrison, o roteirista mais criativo e a mente mais insana dos quadrinhos da atualidade, no timão da nau dos mutantes. E ele virou a revista de cabeça-para-baixo, inserindo um novo conceito na franquia (claro, pegando carona no visual do primeiro filme dos heróis mutantes), colocando na temática da revista idéias novas, que ninguém havia usado numa revista de super-heróis.
Passados alguns anos, a revista já havia se consolidado, mas o roteirista, alegando "maior liberdade criativa", rompeu o contrato com a MARVEL e foi digitar suas letras na DC. E a revista dos X-Men abandonou a "identidade Morrison" e voltou ao que era antes. Estranho. Muito estranho.
Primeiro porque, apesar dos protestos de vários leitores conservadores, a Marvel permitiu que Morrison mudasse por completo sua maior franquia (mais uma vez lembrando, tomando carona naquilo que já havia sido feito no filme). Quer maior "liberdade criativa" do que isso? Segundo porque, por mais conservadora que fosse a Marvel, como confiar que uma editora que, atualmente, defende a "cronologia acima de tudo" e poda todos os roteiristas a favor de UM que esquematizza um ano todo de histórias, crises escabrosas e infinitas loucuras?
Falando na DC, tudo bem, achei legal pra caramba a série "Crise de Identidade", achei que foi divertido acompanhar os eventos da "Crise Infinita", mas, convenhamos, TODOS OS ANOS termos uma CRISE pra alavancar as vendas é chamar os leitores de idiotas. E exigir um pouco demais dos roteiristas.
Acho Johns um dos melhores roteiristas que já li em revistas de super-heróis, mas, nem de longe, ele serve, aliás, nem ele nem ninguém, pra escrever o roteiro de uma série de dezenas de revistas e coordená-las, para que todas estejam no mesmo passo, mês a mês, em função de um evento.
E também acho a DC uma editora grande demais (atualmente, tem os títulos de quadrinhos que eu mais gosto) pra depender da morte de um herói e a ressureição do outro, fora a criação de "novos conceitos" (que, de novos, não têm nem o branco dos olhos) e um "tudo muda" (só pra quem começou a ler quadrinhos ontem) por ano!
Não que heróis não possam morrer. Nem que eles não possam ressucitar (não muito, por favor). Mas é que enche o saco, pô!
Mas vamos voltar ao Batman. Diz a DC (fonte não muito confiável) que a morte de Bruce Wayne era pra ser definitiva. Nesses moldes, eu acharia uma grandecíssima idéia! Isso, sim, ia mudar os paradigmas dos quadrinhos mundiais. Não que isso fosse uma novidade, assim, de cabeça, eu já posso citar o FANTASMA, que teve diversos donos do "manto", durante sua longa história: herdeiros e mais herdeiros, gerações de heróis numa família, mas, nos quadrinhos americanos do "mainstream" isso poderia, nos dias de hoje, ser considerado uma quebra de paradigmas. Bruce Wayne, há mais ou menos setenta anos, prepara um Robin (já existiram três, o "um" que eu usei é um pronome indefinido, e não um numeral) para ser Batman, um dia. Mas esses robins, provavelmente por ficarem sem perspectivas de crescimento nesta empresa, andam resolvendo mudar de emprego (na verdade, um mudou de emprego - virou o Asa Noturna -, um morreu, e ressucitou, e outro continua sendo o robin, mas tem grande propensão a seguir a carreira de um dos dois antecessores, antes de se tornar o morcego).
Imagine como seria bom ter um desses robins como Batman (de preferência, um dos dois que não morreram)! Significaria que a franquia do Batman é mais forte do que Bruce Wayne! E significaria, acima de tudo, a quebra de uma amarra nos roteiristas de quadrinhos de super-heróis, além da salvação da credibilidade da tão defendida "cronologia".
Mas a discussão gerada em cima do artigo de Rich Johnston já levou a Warner a negar a morte de Wayne e barrar o plot, que seria o desfecho da, prometidamente, última "crise" do universo DC. Os leitores, aqueles mesmos que levaram ao cancelamento da minha primeira revista em quadrinhos, X-Men 2099, que criticaram Morrison em sua jornada inovadora nos X-Men e que aclamam, todos os anos, a carnificina que acontece nas "crises" do universo DC, e mantém a mediocridade dos roteiros de quadrinhos de super-heróis da atualidade.
Esses são os verdadeiros culpados.
P.S.: No lugar do Batman, é provável que morra ou o Aquaman, ou o Jonn Jonn's, um que já morreu e voltou e outro que voltaria dos mortos numa história menos escabrosa que a do primeiro Robin.

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