quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Vamos falar de TV Digital?

Brasileiros e Brasileiras, é com muito orgulho que estou convencido de que nunca na história deste país fomos tão enganados acerca de um assunto tão importante. É vergonhoso termos que passar por isso, num momento histórico tão importante. Vou explicar por que:
Há algum tempo, se fala na "nova televisão", com mais interatividade, melhor qualidade de imagem, som, etc. Acredito que desde que a internet se consolidou como um meio de comunicação em massa também para leigos, com facilidade de acesso e interação, gratuidade de grande parte do conteúdo, velocidade de acesso, mesmo que restrito a uma parcela da população (oras bolas... também não é todo mundo que tem TV a cabo!), vem se falando muito de uma resposta da televisão e, até, na aglutinação dos meios numa "nova mídia", popular e de qualidade.
No livro "A Nova Mídia", Wilson Dizard Jr. fala de uma televisão com padrões completamente diferentes dos que temos hoje, com programação "on demand" (sob demanda) sendo o prato principal deste banquete que inclui uma maior facilidade de comércio eletrônico: você poderia fazer suas compras pela TV, no momento do comercial, sem auxílio de telefone ou qualquer outro meio auxiliar (como você faz hoje no "Mercado Livre", só que mais dinâmico e direto com a fabricante, sem intermediários), simultaneidade de canais, arquivamento de programas e, a vedete da TV para os que curtem filmes, uma definição de imagem que poderia atingir as 2 mil linhas (2K).
A TV digital viria para fazer uma convergência dos meios domésticos de comunicação, rádio, TV, telefone e internet, num único aparelho eletrodoméstico que reuniria a família de volta a um único núcleo. Uma proposta tentadora aos conservadores de plantão, que atribuem à falta de unidade familiar todas as mazelas do mundo pós-moderno.
Daí, chega TV digital (HDTV para os íntimos) para os Brasileiros, num discurso pomposo do Presidente e uma transmissão bonitinha na sua televisão Standard (SDTV), de tubo, sem que você faça a mínima idéia do que está acontecendo. Tudo isso é só um teatrinho para que você não pense que estamos atrasados em relação ao resto do mundo. A grande realidade é que a TV Digital Interativa ainda não é uma realidade sequer na grande São Paulo (lugar onde há uma infra-estrutura montada para transmissões em HDTV), quanto mais para o Brasil.
Sim, há uma melhora de sinal, porque a transmissão HDTV é transmitida com até 19 Mbps (Megabits por segundo), enquanto a transmissão SDTV era (ou é, na gigantesca maioria do Brasil) transmitida a 4 Mbps. Vou explicar: ao contrário do que pensam os leigos melhor informados, a TV não recebe um sinal RGB (Red, Green, Blue, ou Vermelho, Verde e Azul, em português), mas um sinal YUV (Luminância, Luminância em relação o Azul e Luminância em relação ao Vermelho), que é processado dentro da sua TV e só vira o sinal RGB na tela de sua televisão. Os 4 Mbps do seu sinal são distribuídos em 1 Mbps para o sinal Y, 1 para o U, 1 para o V e 1 para o som. Na HDTV, são 4 Mbps para cada sinal de Luminância do YUV, 3 para o som e 4 Mbps só para tráfego de informação, traduzida, ou não, em imagem. Isso, claro, nas transmissões 100% HD, pois sua HDTV pode (ou deveria poder) receber três transmissões simultâneas em SDTV.
Mas, aqui no Brasil, ainda não se pode usufruir de tal qualidade 100%. A HDTV, por definição, tem resolução de, no mínimo, 1080 linhas. Menos que isso, é tudo baboseira, ou seja, SDTV. Não adianta a sua TV "super-mega-hiper-LCD-power-plus-hi-fi-digital-dolby-surround-sound-escambau" ter 25 entradas de sinal HDMI, que possibilita transmissão de dados e interatividade (preferência do padrão Japonês de HDTV), se ela nõ tem as tais 1080 linhas de resolução pra exibir o conteúdo que ela recebe. E nenhuma, e eu disse NENHUMA, TV "super-mega-hiper-LCD-power-plus-hi-fi-digital-dolby-surround-sound-escambau" à venda no Brasil tem, sequer, mais de 750 linhas de resolução.
"Pô, pra quem só podia ter TV's "tubão", tela plana, com 425 linhas reais (teoricamente, ela teria mais, quinhentas e pouco, mas a realidade sempre é um pouco inferior) de resolução, ter 750, e com varrimento progressivo, é coisa pra caramba, meu!", você vai me dizer. E eu concordo! Caramba, é um baita passo rumo à evolução dos aparelhos de TV. Mas essa evolução já chegou faz anos no resto do mundo civilizado!
Os Americanos, cuja cultura é a das "sitcoms", "soap-opras" e dos Blockbusters, a "TV On Demand" já existe há mais de uma década, e os aparelhos de TV vão, em menos de 1 ano, chegar ao almejado 2K (mais de 2 mil linhas) de resolução!
Os Japoneses, cuja cultura é a da "informação e consumo a qualquer custo", a interatividade com a TV já é usual e a portabilidade uma realidade há mais de cinco anos! Para se ter uma noção: o tal do celular 3G, que acabou de chegar aqui no Brasil, a preços exorbitantes, já é uma realidade no Japão desde 2005 (dentro do que sei, pois pode ser há mais tempo!). Lá, você recebe, gratuitamente, um aparelho com tecnologia 3G, ao assinar a linha, e assiste TV digital interativa, também gratuitamente, através desse aparelho!
Aqui, o famoso "País da Mãe Joana", você terá que pagar (caro) por qualquer dos serviços disponibilizados pelo aparelho, pelo qual você também pagou (caro).
Voltando ao assunto, só pra concluir, eu entendo que, até pelo fato de o Brasil ser um país pobre, de economia frágil e dimensões continentais, as coisas devem ser feitas passo a passo, sem atropelos. Mas a escolha do sistema a ser adotado, apesar de, no fim, ter sido a mais correta e coerente (a de adotar um sistema genuinamente nacional, que renderá divisas para o nosso país, mais adiante, quando a China e a África Portuguesa forem fazer a mesma transição pela qual estamos passando), foi demorada demais. Três anos para se decidir se usaríamos o padrão americano (alta qualidade de imagem), japonês (altos portabilidade e possibilidade de tráfego de dados), europeu (nem tanto pra leste, nem tanto pra oeste) ou criar um sistema nosso (que, a exemplo da época da TV em cores, ficou muito parecido com o parão europeu, mais esperto) é tempo demais.
Daí, você gasta milhões em publicidade, que não passa de propaganda enganosa, pois, até 2009, não teremos chegado nem ao passo da alta qualidade de imagem. Então por que tanto oba-oba?
O fato é que as fabricantes de aparelhos de TV PRECISAM vender as "set-top boxes" (aquelas caixinhas que você colocava em cima da sua televisão, quando elas não tinham tantos canais quanto a sua TV a Cabo) que, provavelmente, sobraram no mercado exterior e precisam desovar em algum lugar.
Mas o povo brasileiro é esperto, e sabe que a HDTV de verdade já chegou faz tempo. Ela se chama Internet Banda Larga, recebeu o apelido de Web-TV, é mais interativa que a HDTV japonesa, acessa dezenas de canais ao mesmo tempo, serve de workstation e tem mais de 2 mil linhas de resolução com varrimento progressivo (sim, o monitor de seu computador é melhor que a TV "super-mega-hiper-LCD-power-plus-hi-fi-digital-dolby-surround-sound-escambau" do seu pai).

3 comentários:

Anônimo disse...

Bem, não gosto meesmo de TV e nem tive muito tempo pra pesquisar nada a respeito. Isso pode não influenciar minha vida, mas influencia a vida de quem está a minha volta e isso sim, influencia minha vida.

Anônimo disse...

É Fly se você tivesse lido a Olhar 12, cuja redatora chefe é a Josete, saberia que a hdtv é maior cascata.

Luiz Salles disse...

Pô, Mozart, deixa o link aí, pelo menos!